TTR In The Press

O Jornal Económico

Novembro 2025, Ricardo Santos Ferreira

Valor de M&A em Portugal dispara com venda do Novobanco, mas negócio continua em queda

Incluindo os 6,4 mil milhões de euros previstos para a aquisição do quarto maior banco português pelo segundo maior grupo financeiro gaulês, o capital movimentado aumentou 33,5%, para 13,8 mil milhões de euros, nos 10 primeiros meses do ano.

O mercado português de fusões e aquisições (M&A, na sigla inglesa) mudou de trajetória, de uma queda sustentada para uma subida, com a inclusão do negócio anunciado da compra do Novobanco pelos franceses do BPCE. Incluindo os 6,4 mil milhões de euros previstos para a aquisição do quarto maior banco português pelo segundo maior grupo financeiro gaulês, o capital movimentado aumentou 33,5%, para 13,8 mil milhões de euros, nos 10 primeiros meses do ano face a igual período de 2024, segundo a TTR Data.

Sem o Novobanco, os primeiros três trimestres mostravam uma quebra de 30% no capital mobilizado. Até outubro, o número de transações caiu 11,1%, para 479.

Sem o negócio do Novobanco, 2025 seria mais um ano de travagem; com ele, Portugal volta ao grupo de mercados com grandes negócios, capazes de redesenhar as estatísticas anuais quase sozinhos. O salto ajuda a normalizar rácios e a reposicionar o país nos radares internacionais, mas não resolve a redução do fluxo de dossiês fora da banca, da energia e do imobiliário.

Os investidores estrangeiros continuam a mandar, com 146 aquisições, no valor de 8,1 mil milhões de euros, contra 101 operações de grupos portugueses no exterior, que somam 2,2 mil milhões. A balança mantém-se inclinada para o capital que entra e revela a dificuldade das empresas nacionais em ganhar escala internacional. Espanha lidera por número de negócios, com 49 aquisições, mas é a França que dispara no valor – 6,8 mil milhões –, praticamente todo concentrado na compra do Novobanco.

Por segmentos, o mapa é igualmente desequilibrado. O private equity salta para 7,9 mil milhões de euros, uma subida de 135,9%, em 76 transações, mais 11,8% do que em 2024. É aqui que se regista a saída da Lone Star do Novobanco e a concentração de megadeals. O venture capital recua para 727 milhões de euros, menos 11,2%, com 101 operações, uma descida de 16,5% em número de negócios. Já as aquisições de ativos – de imóveis a projetos de energia – somam 3,6 mil milhões de euros, mais 13%, em 121 negócios, mais 4,3%, e continuam a ser a porta de entrada preferida dos investidores.

Mantém-se um padrão de menos negócios e mais concentrados. Até setembro, o mercado transacional tinha registado 440 operações, num total de 6,9 mil milhões de euros, menos 6% em número e menos 30% em valor do que em 2024, antes de a operação Novobanco entrar nas contas. A travagem não é abrupta, mas é persistente – e é ela que condiciona a rotação acionista, a sucessão em muitas PME e a capacidade de reciclar capital dentro da economia.

O detalhe setorial confirma esta fase. O imobiliário continua a ser o grande motor, com mais de 70 operações de M&A no ano, apesar de uma descida de 11% face ao mesmo período de 2024. A tecnologia – sobretudo internet, software e serviços de TI – soma perto de 80 transações, uma quebra de 14%. Turismo e lazer avançam 23% em número de operações e as renováveis recuam 15%, ganhando peso sobretudo em negócios médios, onde grupos nacionais e internacionais se reposicionam em ativos de longo prazo.

O efeito Novobanco também se sente nos rankings de assessores, porque quem participou passou a liderar os rankings. Em valor, a PwC dispara na frente, apoiada no mandato da venda do banco, e a DLA Piper ABBC lidera a tabela de sociedades de advogados. Nos escritórios portugueses, a CS’Associados assume o topo por montante, com um salto alimentado pelo mesmo negócio, enquanto CCA Law Firm, Garrigues, Cuatrecasas, Morais Leitão e SRS Legal disputam a liderança por número de transações, num mercado em que poucos mandatos grandes chegam para reordenar as ligas e em que a concorrência se joga, cada vez mais, em nichos.

No venture capital, o protagonismo é sobretudo doméstico. Shilling, Lince Capital, Indico, Bright Pixel Capital e Iberis Capital surgem nos primeiros lugares num segmento que cai 11,2% em valor e 16,5% em operações, mas continua a ser o principal canal de financiamento para tecnologia em fase de crescimento. A operação destacada pela TTR Data em outubro é a injeção de capital de 75 milhões de dólares (cerca de 64 milhões de euros) na Feedzai, que confirma a capacidade das fintech portuguesas em atrair rondas internacionais e competir no mercado global de soluções de prevenção de fraude.

Já o mercado de capitais continua fechado, sem ofertas públicas iniciais e com apenas um aumento de capital em bolsa, de cinco milhões de euros. Para muitas empresas, isto significa continuar entre o crédito bancário e o acionista de referência quando precisam de crescer.

No papel, 2025 arrisca ser um dos melhores anos em valor transacionado. Mas basta retirar o Novobanco da equação para que o ano volte ao que é: consolidação e poucos negócios transformacionais. Mantendo-se assim e sem mais nenhum megadeals no horizonte para 2026, os homólogos vão ser difíceis de digerir.


Source: O Jornal Económico - Portugal 


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