TTR In The Press
Diário de Notícias
Junho 2025, João Rodrigues Pena
490 milhões
Esta semana fez capa a maior aquisição de sempre por gestoras de fundos de Private Equity em Portugal. A Draycott de João Coelho Borges e a Movendo Capital da família Soares dos Santos, liderada por Pedro Pereira Gonçalves, uniram-se para comprar a produtora líder de embalagens de perfume de luxo Everescence por 490 milhões de euros. A escala desta operação vem colocar o PE nacional num novo patamar e por isso vale a pena “ver mais de perto” a operação e que implicações poderá ter no futuro.
Fundada em 1896 e baseada em Paris, a empresa possui sete unidades industriais espalhadas por França, Espanha , EUA e Coreia do Sul servindo clientes como Hermès , LVMH ou L´Oréal. Durante alguns anos nas mão da PE Oaktree Capital Mangement, a empresa cresceu, investiu e aumentou a sua rentabilidade – mas com potencial para ir mais longe. Em 2019, uma nova PE, a Stirling Square adquire a empresa que e nos seis anos seguintes leva-a a um aumento de receitas de 40% e à triplicação o EBITDA para mais de 80 ME. Foi marcante neste período a aquisição de operações na Coreia do Sul, que permitiu a expansão para o crescente segmento premium de beleza na Ásia, e investimentos superiores a 100 ME em aumento de capacidade e produtividade, nomeadamente com recurso a IA e machine learning proprietários.
Agora, a Stirling terá considerado ter atingido os seus objetivos de valorização e que era altura de vender, alimentando com liquidez o ciclo normal de desenvolvimento dos fundos de PE. E é interessante notar como esta operação é sintomática da dinâmica do setor de Private Equity, com as empresas a passarem de mão em mão, de um fundo para outro, sempre sem perder dinheiro e convencendo o novo entranter do potencial de ir ainda mais longe. Mas atenção – há uma continuidade importante de transação para transação e neste caso está materializada na figura de Thomas Riou, presidente da Everescence há décadas.
É nisso que acreditam Draycott e Movendo com a operação, para mais feita a um múltiplo de cerca de 6 vezes EBITDA o que parece razoável. Mas o mais notável é a ambição e a visão global, sem fronteiras nem limites que é tão rara em Portugal mas tão inspiradora. O anúncio da operação pelos promotores transborda entusiasmo.
Esta operação é uma pedrada no charco do PE nacional, tanto mais que protagonizada por uma firma com seis anos de atividade, mais de 15 operações e 2 bio investido. É uma nova escala que desponta e que vem contrariar a a pequena dimensão e queda das operações de M&A em Portugal.
Olhemos para Espanha e recordemos o que aqui escrevi há uns meses atrás. Espanha registou 2.939 negócios com um valor agregado de 89,7bi a novembro (TTR Data) e entrando com o efeito do nível de GDP relativo dos dois países, 1,700 vs. 241 bio, as operações de M&A em Espanha resultaram num volume 6,7 vezes superior para um número de operações 4,6 vezes superior face às operações nacionais. E em Portugal a atividade não só é marginal ... como regista mesmo quedas significativas de 28% até novembro para 90 operações, totalizando cerca de 1,91 bi, menos 46% do que no mesmo período de 2023.
Ficam como lições desta operação da Draycott e da Movendo uma visão, ambição, profissionalismo de nível internacional e capacidade de mobilização de capitais exemplares. Atributos que não há razão para que não inspirem todo o setor de PE nacional a não se ficar pelos fundos já tão habituais de 100 ou 150 ME e dar o salto que também as suas próprias competências seguramente estão à altura de potenciar.
Empresário, Gestor e Consultor
Source: Diário de Notícias - Portugal
