TTR In The Press

Exame (BR)

January 2024, Karina Souza

No venture capital, um longo (e tenebroso) inverno

Captação de fundos de VC caiu 60% nos Estados Unidos em 2023; no Brasil, o cenário não é muito diferente

A disparada dos juros esfriou o dinheiro para as startups e trouxe um 'inverno' doloroso após o auge de 2021. Em 2023, o que já estava difícil, ficou ainda pior. Um levantamento feito pelo PitchBook mostra que o volume de recursos captados por esse tipo de fundo mergulhou 60% nos Estados Unidos, chegando a US$ 67 bilhões, contra o recorde de US$ 170 bilhões de 2022 e voltando ao mesmo patamar de 2017.

Não é uma exclusividade dos EUA: a fonte secou globalmente, com investidores de venture capital levantando o menor montante desde 2015.

Num dos exemplos das dificuldades do setor, a Tiger Global Management – uma das grandes companhias globais de VC – reduziu duas vezes o objetivo final de captação para seu último fundo. A empresa terminou 2022 com a meta de levantar US$ 8 bilhões, depois passou para US$ 6 bilhões e, finalmente, para US$ 5 bilhões em fevereiro do ano passado, por exemplo, além de reconhecer baixas contábeis.

E o fundo do poço ainda parece estar distante, disse Kyle Stanford, analista de VC do PitchBook ao Financial Times. "Muitas das companhias que ainda são privadas vão ter dificuldades e vemos muito mais down rounds [rodadas de investimento com valuations menor do que em aportes anteriores) e os fundos vão ter problemas para sair [das empresas]. Vai ter muita competição pelo dinheiro que está disponível."

O montante gerado pelos exits, no jargão, foi de US$ 61,5 bilhões no ano passado, menos de 10% dos US$ 797 bilhões gerados em 2021, no auge do setor, ainda nos Estados Unidos.

Além da escalada global dos juros, o setor foi influenciado pelo saldo acumulado da ressaca tech no pós-pandemia, guerra entre Rússia e Ucrânia, desaceleração na China -- além da quebra do Sillicon Valley Bank.

Na América Latina, a situação também não é das melhores. Em termos de captação, os fundos na região – pouco representativa na indústria global – captaram US$ 2 bilhões, volume maior do que o de 2022 (US$ 1,4 bilhão), mas pouco abaixo do de 2021 (US$ 2,3 bilhões), ainda de acordo com o PitchBook.

Mas as startups da região sofreram: em 2023 foram raealiados 864 aportes, que somam ao todo US$ 4 bilhões, queda de 58% em relação ao ano anterior (e de 77% em relação a 2021). Foi, também, o ano com menor número de saídas para os investidores, com 55 no total -- comparável apenas a 2019. Apesar disso, em volume, o número ficou similar ao de 2022, com US$ 1,4 bilhão.

No Brasil, dados compilados de janeiro a setembro pela Associação Brasileira de Venture Capital (Abvcap) em parceria com a TTR Data mostram que os fundos de VC alocaram R$ 5 bilhões, um terço do realizado no período equivalente de 2022. Aqui, diante, de uma base de comparação já espremida: em 2022, o volume total de investimentos em venture capital foi de R$ 16,9 bilhões, ante R$ 52,2 bilhões em 2021, segundo o mesmo relatório.

Na América Latina, uma pesquisa da Lavca, inserida no The Latam Tech Report, mostra que, até o terceiro trimestre, foram arrecadados US$ 2,7 bilhões na região, valor que fica entre os US$ 2 bilhões de 2018 e os US$ 5 bilhões de 2019. Entre os maiores deals do ano passado, estão a rodada de captação da fintech Nomad, de R$ 301 milhões, seguida pela startup de aluguel de motos Mottu, que captou outros R$ 243 milhões, e pelo app de entregas rápidas de mercado Daki, com outros R$ 242 milhões.


Source: Exame (BR)  


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