TTR In The Press

Folha de São Paulo

January 2014

Cenário de incertezas trava negócios de fusões e aquisições no Brasil

As incertezas em relação ao desempenho da economia brasileira fizeram com que as operações de compra e venda de empresas andassem mais devagar em 2013.

O interesse pelo Brasil continuou alto, mas no final, negócios relevantes acabaram não sendo concluídos, segundo alguns dos principais escritórios de advocacia do país ouvidos pela Folha.

Além do baixo crescimento, os efeitos da desvalorização do real, as manifestações de rua e a memória da intervenção do governo no setor elétrico, feita no final do ano passado, contribuíram para a indecisão dos investidores em 2013, afirmam advogados que assessoram operações desse tipo.

Eles afirmam que os compradores, especialmente os estrangeiros, ficaram mais reticentes e, com isso, as operações demoraram mais tempo para se concretizar.

"Do ponto de vista do movimento foi muito intenso. Mas, de casos efetivamente concluídos, houve um número menor. Isso significa que o tempo de negociação está maior ou há desistência no meio do caminho", diz João Ricardo de Azevedo Ribeiro, sócio do Mattos Filho, o maior escritório na área.

Segundo ele, apesar de trabalharem ao longo do ano com uma média de mais de 100 casos de fusão e aquisição, apenas 80 foram concluídos, contra 95 em 2012.

Números do mercado corroboram essa percepção. A mudança na disposição dos investidores apareceu especialmente nos valores envolvidos: R$ 15 bilhões a menos do que ano anterior, segundo levantamento da consultoria TTR - Transactional Track Record, que mapeia diariamente as operações feitas no Brasil.

Até meados de dezembro, foram concluídas 809 fusões ou aquisições, envolvendo R$ 173 bilhões. Em 2012, foram 860 operações, que movimentaram quase R$ 188 bilhões.

"Não vimos tantas operações bilionárias no mercado. O interesse segue alto, mas não é a mesma coisa", afirma Lior Pinsky, sócio do Veirano Advogados.

Um dos grandes negócios de 2012 foi a venda da Amil para a americana United Health, uma transação de R$ 10 bilhões à época (US$ 4,9 bilhões).

O mercado de compra e venda de empresas reflete a percepção dos investidores sobre o que irá acontecer no país nos próximos anos. Quando as perspectivas são positivas, a tendência é de que corram para adquirir companhias à espera de um retorno alto com a explosão de vendas e do consumo.

Já nos momentos de incerteza, muitos optam por analisar mais a fundo suas opções, barganhar valores ou crescer por meio da expansão do próprio negócio.

A derrocada dos negócios de Eike Batista, que correu para vender boa parte de suas empresas, ajudou a movimentar o mercado, afirmam advogados. Eles ponderam, contudo, que o episódio vai impor desafios aos investidores -e a seus assessores- nos próximos anos.

"Quem está contemplando operações, terá de ser muito mais diligente. As operações tenderão a ser mais longas e pensadas. Aquela coisa de comprar no impulso, que se via antes, não deve mais acontecer", afirma Alexandre Bertoldi, sócio-gestor do Pinheiro Neto.

O calendário do ano que vem também deve impor dificuldades ao mercado. Além da Copa do Mundo, será ano eleitoral. "É natural que as pessoas aguardem uma definição sobre quem será eleito para que se sintam confortáveis em fechar o negócio", diz Monique Mavignier, do Barbosa, Mussnich e Aragão.

Folha de São Paulo - http://www1.folha.uol.com.br/mercado/2014/01/1393821-cenario-de-incertezas-trava-negocios-de-fusoes-e-aquisicoes-no-brasil.shtml


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